Quinta, 17 de Julho de 2025
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Carta de despedida do marido de Ney Matogrosso, morto pelo HIV, é revelada após mais de 30 anos; confira

02/07/2025 16h25
Por: Eduardo Neres
Reprodução/Redes sociais
Reprodução/Redes sociais

O cantor Ney Matogrosso emocionou o país ao relembrar publicamente, em diferentes ocasiões, aquele que considera o grande amor da sua vida: o médico Marco de Maria, falecido aos 32 anos, em 1993, após uma intensa batalha contra a Aids.

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O relacionamento entre Ney e Marco durou cerca de 13 anos e foi marcado por afeto, cumplicidade e resistência em meio à dura realidade da epidemia de HIV que assolava o Brasil nas décadas de 1980 e 1990. Nos momentos mais críticos da doença, Ney acolheu Marco em seu apartamento e dedicou-se integralmente aos cuidados do companheiro, ajudando-o em tarefas básicas, como se alimentar e tomar banho — um gesto de amor e entrega profunda.

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A despedida foi igualmente comovente. Na madrugada de 16 de fevereiro de 1993, após Marco resistir a três paradas cardiorrespiratórias, Ney deitou-se ao lado do parceiro e sussurrou palavras que marcaram para sempre sua história:
“Marco, chega. Não se esforce mais. Você já sofreu muito. O amor da gente continua.”
Segundo Ney, Marco respondeu com um leve movimento de cabeça — seu último gesto de consciência — antes de partir.

O momento e a trajetória do casal foram retratados com sensibilidade na biografia “Ney Matogrosso — A Biografia”, escrita por Julio Maria. Nela, é revelada uma carta deixada por Marco, escrita durante um período que passou com o irmão e Ney na Praia Grande, onde registrou seus sentimentos mais íntimos diante da proximidade da morte.

O texto é um comovente desabafo sobre a perda da juventude, da liberdade e das pequenas aventuras da infância, com uma sensibilidade poética que toca profundamente o leitor. A seguir, a íntegra da carta:


Carta de Marco de Maria

"Saudade de quando o verde penetrante da amendoeira ao sol servia de abrigo para minhas cabanas e minhas fantasias, do tempo em que eu olhava o mar de cima e, de tardezinha, quando o sol não machucava mais, eu e meu amigo nadávamos e nadávamos, íamos longe nesse mar, éramos levados pelas correntezas e saíamos da água muito longe do lugar onde tínhamos entrado. Íamos os dois, um confiando na confiança do outro, um ancorando o outro. Saudade do tempo em que eu era possibilidade, o mar era possibilidade, minhas fantasias eram possibilidade, e eu era livre.

Agora vejo a amendoeira, não mais a que eu subia, mas uma amendoeira onde não posso subir e construir cabanas. Vejo um mar tão longe de mim e das minhas corajosas investidas de golfinho. O tempo me vendo passar, e o espaço pequeno demais para aventuras reais. Os amigos cada vez mais distantes, os dias menos excitantes e sem a bicicletinha que se impregnava de areia salgada das praias que eu e meu amigo costumávamos visitar!

Não há mais vento noroeste que impedia a gente de andar e respirar; não há mais para mim microalgas nas noites de lua cheia nem banhos de mar em água morna dos verões em que eu pulava a janela de madrugada e corria para a praia; e nos temporais eu corria na chuva julgando aquele o ato de maior liberdade para qualquer ser. Que saudade da liberdade!

E depois da chuva, procurar cobras nos montes de mato que a maré devolvia e procurar algo muito precioso que o tempo poderia me ofertar. Saudade de voltar para casa, fechar as janelas para os insetos não entrarem e dormir feliz. E amanhã cedo acordar para todas as possibilidades.”


A carta de Marco ecoa até hoje como um testemunho poético e profundo sobre a fragilidade da vida e a beleza das memórias. Para Ney Matogrosso, que preserva com carinho a lembrança do companheiro, o amor não se apagou com a morte. Ele permanece vivo, como ele próprio disse no adeus mais doloroso de sua vida:

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