Sábado, 14 de Junho de 2025
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“Estão pedindo dois milhões”: áudios revelam propina para liberar maconha

11/06/2025 12h40
Por: Eduardo Neres
“Estão pedindo dois milhões”: áudios revelam propina para liberar maconha

Uma investigação da Polícia Federal revelou os bastidores de uma operação criminosa que envolveu a liberação de um caminhão com 10 toneladas de maconha, encomendadas pelo Comando Vermelho, mediante o pagamento de propina a policiais civis. A droga, que havia sido interceptada no Rio de Janeiro, foi liberada após um acordo ilegal intermediado por advogados da facção. Parte dos envolvidos responde em liberdade.

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A carga saiu do Mato Grosso do Sul com destino ao Rio, disfarçada sob nota fiscal de frango congelado. Durante o trajeto, o caminhão foi parado pela Polícia Rodoviária Federal na região da Serra das Araras. Segundo o delegado Pedro Duran, da Polícia Federal, o veículo era escoltado por viaturas da Polícia Civil, e em vez de ser levado à delegacia para registro da apreensão, os policiais iniciaram uma negociação para liberação da droga.

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Áudios expõem negociação

Em gravações telefônicas, Carlos Alberto Koerich, apontado como responsável pela logística da carga, relata à esposa, Lucinara Koerich, a tentativa de suborno:

“Tô no maior desenrole com o cana aqui, amor. Pegaram o caminhão ali na Serra das Araras.”

Lucinara também participa das tratativas:

“Os polícia tão pedindo dois milhão pra soltar a mercadoria. Eles querem dar um milhão e meio.”

A negociação teria sido intermediada pelos advogados Leonardo Galvão e Jackson da Fonseca. Em um dos áudios, Jackson reclama por não ter recebido sua parte:

“Chega na hora, os caras levaram tudo, mano. A gente que agilizou tudo. Tem consideração nenhuma pelo colega.”

Segundo a investigação, o acordo previa que 10% da propina seria destinada aos advogados. Após o pagamento, o policial civil Deyvid da Silveira escreveu à mão uma falsa ocorrência afirmando que “nada foi encontrado” e que o motorista foi liberado. A droga foi então entregue no Complexo do Alemão.

A volta do caminhão e a reviravolta

Após o descarregamento, o caminhão retornava ao Sul quando foi novamente parado pela PRF. Fragmentos de maconha encontrados no veículo permitiram a realização de perícia, que comprovou a natureza da carga transportada.

“Foi o que permitiu comprovar que a carga era entorpecente”, afirmou o promotor de Justiça Fabiano Oliveira.

Prisões e grupo de mensagens entre policiais

Durante a investigação, foram presos:

  • Os policiais civis Juan Felipe Alves, Renan Guimarães, Alexandre Amazonas, Eduardo de Carvalho e Deyvid da Silveira;

  • O policial militar Laercio de Souza Filho;

  • Os advogados Leonardo Galvão e Jackson da Fonseca.

Carlos Alberto Koerich, sua esposa Lucinara Koerich e o sogro, Marcelo Luiz Bertoldo, continuam presos, acusados de tráfico e organização criminosa.

Já os policiais e advogados — com exceção de Jackson — foram soltos após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que considerou não haver provas diretas do tráfico, já que o caminhão foi apreendido vazio. Eles agora respondem apenas por corrupção.

A PF também descobriu que os policiais civis mantinham um grupo de mensagens chamado “Mente de um Vilão”, onde discutiam esquemas de tráfico desde 2020.
Em um dos áudios, Juan Felipe comenta:

“A gente pode beliscar alguma coisa. (...) Arruma umas nota fiscal, entendeu? Vai ganhando e amenizando nossa dor.”

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