Uma forma menos conhecida — e mais traiçoeira — da pneumonia tem despertado atenção especial de profissionais da saúde e pais: a chamada pneumonia “silenciosa”, ou pneumonia atípica. Apesar de causar menos sintomas nos estágios iniciais, essa condição pode trazer complicações graves, especialmente em crianças, se não for diagnosticada e tratada corretamente.
Diferente da pneumonia “típica”, causada principalmente pela bactéria Streptococcus pneumoniae e marcada por febre alta, tosse e dor no peito, a pneumonia silenciosa evolui de maneira mais discreta. Em muitos casos, só é percebida quando já se encontra em estágio avançado.
Entre os sinais de alerta estão dificuldade para comer, cansaço extremo, chiado no peito, retração das costelas, pouca vontade de urinar e febre baixa. “Não podemos tratar como uma nova doença. A patologia é a mesma, mas com apresentação diferente”, explica a pneumologista Marcela Costa Ximenes, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Entre os microrganismos mais associados à pneumonia atípica estão as bactérias Mycoplasma sp. e Chlamydophila sp., além de vírus como os da gripe e o Sars-CoV-2, causador da Covid-19.
Em 2024, o Brasil registrou um aumento preocupante nos casos de pneumonia. Segundo dados do DataSUS, foram 701 mil internações, um crescimento de 5% em relação a 2023. As mortes também subiram: 73.813 óbitos, 12% a mais que no ano anterior. O estado de São Paulo apresentou índices ainda mais elevados, com aumento de 6,7% nas internações e quase 13% nas mortes.
A dificuldade em diferenciar casos típicos e atípicos torna o monitoramento mais complexo. Ainda assim, estima-se que 30% a 40% das pneumonias sejam do tipo silencioso, o que representa até quatro casos a cada mil pessoas, segundo Ximenes.
Para o pneumopediatra Luiz Vicente Ribeiro, do Hospital Israelita Albert Einstein, o aumento atual está ligado ao retorno das atividades presenciais após a pandemia de Covid-19. “As crianças ficaram afastadas da escola e deixaram de ter contato com vírus e bactérias comuns. Com a volta à rotina, estão mais suscetíveis”, explica.
Esse cenário cria uma janela de vulnerabilidade, principalmente entre os pequenos que ainda não desenvolveram imunidade natural a esses agentes infecciosos. A previsão é que surtos de pneumonias atípicas se mantenham em alta nos meses de outono e inverno, época de maior circulação de vírus respiratórios.
O diagnóstico da pneumonia silenciosa é feito por exames clínicos, ausculta pulmonar e radiografia de tórax. Em alguns casos, podem ser solicitados exames laboratoriais como PCR, mas eles não costumam alterar a conduta médica.
O tratamento depende do agente causador. Enquanto a pneumonia típica responde bem a antibióticos como penicilina, os casos silenciosos muitas vezes exigem outros medicamentos, pois bactérias como Mycoplasma são naturalmente resistentes a esses antibióticos.
A demora no diagnóstico pode levar a complicações severas, como insuficiência respiratória, cardíaca ou renal, sepse, necessidade de ventilação mecânica e até encefalite.