Pouco conhecida da maioria da população, a donovanose é uma infecção sexualmente transmissível (IST) rara, mas potencialmente grave, causada pela bactéria Klebsiella granulomatis. Apesar de sua baixa incidência, principalmente no Brasil, a doença chama atenção por causar feridas indolores na região genital que podem evoluir para lesões extensas e deformantes se não tratadas a tempo.
A transmissão ocorre principalmente por contato sexual sem proteção, mas o contágio também pode se dar por meio do contato direto com feridas infectadas, mesmo fora de relações sexuais. “Ela ocorre mais frequentemente em regiões quentes do Brasil e com acesso limitado a serviços de saúde, como no Norte e Nordeste”, explica a ginecologista Fernanda Torras. Atualmente, a donovanose responde por cerca de 5% das ISTs no país e tem apresentado queda nos registros, embora ainda seja endêmica em locais tropicais e subtropicais como Índia, Papua-Nova Guiné, Caribe, partes da África e o próprio Brasil.
O sintoma mais característico são lesões genitais ou anais que surgem a partir de pequenos nódulos e evoluem para feridas avermelhadas, de bordas elevadas e geralmente sem dor. “O grande diferencial dela em relação a outras ISTs que causam feridas é que ela não dói. A não ser a sífilis, todas as outras costumam ser dolorosas. E diferente da sífilis, a donovanose não regride sozinha”, afirma a ginecologista Carolina Cunha Orlandi, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Sem tratamento, a infecção pode se agravar e causar deformações permanentes, com destruição progressiva do tecido genital, cicatrizes profundas e até estreitamento (estenose) de órgãos como a uretra, vagina ou ânus. Casos mais avançados podem gerar disfunções urinárias, sexuais e reprodutivas. Raramente, a bactéria pode atingir outros órgãos, como ossos e fígado. Além disso, a presença de lesões abertas aumenta o risco de infecção por outras ISTs, como o HIV.
O diagnóstico é feito por meio da análise laboratorial das lesões, buscando a presença dos chamados "corpos de Donovan", estruturas características dentro das células infectadas que confirmam a doença.
O tratamento é realizado com antibióticos como azitromicina, doxiciclina ou ciprofloxacino, sempre com prescrição médica. Em geral, o uso contínuo por algumas semanas é suficiente, mas casos avançados podem requerer acompanhamento prolongado ou até intervenções cirúrgicas para reconstrução de áreas afetadas.
“Quando não tratada a tempo, pode deixar sequelas como cicatrizes, deformidades e estreitamentos que afetam a função urinária, sexual e reprodutiva”, alerta a médica Fernanda Torras. Por isso, ela reforça: o diagnóstico precoce e o tratamento completo são fundamentais para evitar danos permanentes.
A melhor forma de prevenção é o uso de preservativo em todas as relações sexuais, além da realização de exames periódicos, especialmente para pessoas sexualmente ativas com múltiplos parceiros.